25 de ago. de 2009

SERRA FINA 2009 - TERCEIRO DIA

3º Dia – 15/07/2009 – Quarta-Feira – RUMO À PEDRA DA MINA

Tomamos nosso café e partimos animados, por volta das 9:00h, em direção à Pedra da Mina; o 4º maior pico do Brasil ficando atrás apenas do Pico da Neblina, Monte Roraima e Pico da Bandeira.

15/07/09, quarta-feira, 8:53h - A caminho da Pedra da Mina. Turma reunida no Alto do Capim Amarelo, pronta pra partida. Da esquerda para a direita: Em pé: Alê, Jorginho, Rodrigo, André e Guto. Agachados: Eu (Alberto), Jackson e Dinho

Ocorre que o acesso a Pedra da Mina é infinitamente mais difícil do que o Pico da Bandeira, conforme iríamos sentir na pele.
Neste dia, fomos logo cedo apresentados ao famoso Capim de Anta de mais de dois metros e aos insuportáveis e quase intransponíveis bambuzais da Serra Fina.

Foi uma sucessão infinita de desce e sobe, por um terreno que oferece aos amantes do Treking, uma variedade enorme de dificuldades, que coloca o PARNASO no nível de um parque de diversões. As 10:20h.
Demos uma parada em um local descampado chamado Maracanã e o Guto pediu que aguardássemos ali. Ele sumiu no mapa e voltou, logo depois, com um punhado de mantimentos.
É que os guias costumam ter os seus locais secretos, onde armazenam mantimentos para o caso de emergências.
Isso me lembrou o Arones lá nas matas de Magé, com os seus depósitos secretos de mantimentos e tralhas.

15/07/09, quarta-feira, 10:22h – Este local é chamado de Maracanã. Ponto de repouso e ótimo lugar para acampar. Paramos por quinze minutos e seguimos

Voltamos logo para a trilha e logo caminhávamos entre touceiras de capim de anta, bambuzais, mata fechada e trepa pedras, quando de repente, a Serra Fina resolveu dar o ar da graça.

Este lugar pode ser comparado a uma misteriosa e volúvel mulher:

Por alguns momentos o explorador tem a sensação de estar caminhando nas nuvens, tamanha a sua beleza.

Quando menos se espera, estamos embrenhados em uma floresta fechada ou quase escalando trechos completamente inesperados, pelo seu grau de dificuldade e beleza recompensadora.

Em outros momentos, cruzamos extensos campos de capim de anta, que nos cobrem até a cabeça, nos massageando e arranhando ao mesmo tempo, como uma mulher repleta de volúpia e pronta a nos devorar até a nossa essência.

Quando acreditamos que temos o domínio da situação, ela se revela, em toda a sua plenitude, aridez e crueza, nos dominando e subjugando, para provar que tem todo o domínio da situação e quem manda é ela.

Foi assim que a Serra Fina se comportou neste dia...

Paramos para lançar as 11:00h e de repente o Guto nos aconselhou a colocar os agasalhos e, num piscar de olhos, as nuvens se aproximaram com uma velocidade espantosa, carregadas com um vento forte e agonizante, nos empurrando para o lado oposto do que caminhávamos.



15/07/09, quarta-feira, 11:08h – Nesta parada, o Guto nos preveniu para o tempo que iria virar dali em diante. Observem o “russo” subindo entre eu e o Guto (de camiseta preta)

A neblina tomou conta de tudo e caminhar exigia um enorme esforço.

As 14:00as, chegamos a uma pequena queda d’água chamada Cachoeira Vermelha.

Não nos abastecemos, porque a água é intragável, pelo alto grau de minério de ferro na sua composição.

Tiramos algumas fotos e seguimos.

15/07/09, quarta-feira, 14:04h – Parada em frente à Cachoeira Vermelha. Observem atrás de minha mochila uma pequena queda d’água. É ela! A água não é boa, pois tem muito minério em sua composição

Chegamos à base da Pedra da Mina e nos abastecemos, depois de mais de 36 horas do último abastecimento na Toca do Lobo.

Valeu à pena, pois a água deste riacho é pura e cristalina.

Fartamos-nos de beber e enchemos as nossas reservas, que já estavam em um nível crítico.

Mais pesados, em virtude da carga de água, retomamos a subida e o ataque final ao Cume da Pedra da Mina.

Não preciso dizer que a subida foi terrível.

O vento açoitava as capas das mochilas, de forma que elas pareciam velas de navios.

A neblina era densa e fria e nossas forças, cada vez menores.



15/07/09, quarta-feira, 15:16h – Último ataque à Pedra da Mina. Os totens de lá, são sempre amigos. Observem o tempo fechado. Pena que a foto não registrou a ventania

Finalmente, depois de mais de 8 horas de caminhada muito pesada, chegamos ao topo da Pedra da Mina, em meio a muita emoção, gritos de entusiasmo e euforia.

Foi uma subida e chegada inesquecível.

Tocar aquele marco com a indicação geodésica da Pedra da Mina foi um momento de muita emoção para todos nós.

Assinamos o livro do cume e tiramos muitas fotos.

15/07/09, quarta-feira, 16:11h – A poucos metros do cume da Pedra da Mina. Momento de emoção e glória pessoal para todos



15/07/09, quarta-feira, 16:16h – Emoção da chegada após três anos de planejamento. O Dinho tinha que estar comigo nessa. Valeu amigo!


15/07/09, quarta-feira, 16:16h – A emoção da garotada também foi grande. Grandes garotos!


15/07/09, quarta-feira, 16:16h – Marco geodésico do IBGE na Pedra da Mina



15/07/09, quarta-feira, 16:22h – Jorginho assinando o Livro de Cume. Não reparem na meleca congelada, nem nos dentes imundos. hehehe


Não preciso dizer, que dormir no cume seria impossível, em virtude do mal tempo e do pouco espaço para montar barraca.

Só há um pequeno ponto abrigado e com espaço, onde só cabe uma barraca pequena.

O restante do espaço é composto de terreno rochoso e irregular.

Mais uma vez, por intervenção do Guto, descemos uns 10 minutos até um local chamado Cratera, onde o vento não batia e havia muitos pontos excelentes para se montar barracas.

Acampamos, comemos e ficamos na expectativa de como o tempo iria se comportar, pois havia grande possibilidade de termos que retornar pelo Paiolinho, caso o tempo continuasse ruim.

Por falar nisso, o nosso guia emprestado (Guto), iria retornar à Toca do Lobo, de qualquer forma, pelo Paiolinho no dia seguinte, pois já havia tratado com o André, em virtude de um compromisso com a sua filha no dia seguinte.

Com isso, um grande dilema pairou sobre o grupo e fiquei com a responsabilidade de definir se seguiríamos ou não, no dia seguinte.

A situação, ao final do dia era a seguinte:

  • O Dinho estava quebrado e estava pensando em retornar com o Guto pelo Paiolinho.
  • O Rodrigo queria seguir de qualquer jeito, mesmo caindo tempestade.
  • O Alê estava cauteloso, porém, queria seguir.
  • O André queria seguir conosco, mas estava muito preocupado, já que não nos conhecia bem e duvidava da nossa capacidade de navegação.
  • Os garotos – Jackson e Jorginho – estavam sobrando no grupo e queriam é mais.
  • O Guto voltaria de qualquer maneira pelo Paiolinho.
  • Eu estava:
    • Quebrado e cansado, com uma puta distensão no ombro e uma dor insuportável.
    • Com um GPS que não funcionava bem, nem com tempo bom. O que não dizer com tempo fechado.
    • Às vésperas de encarar o pior trecho de navegação da travessia (Vale do Ruar). Sem GPS, sem guia e com um monte de malucos comigo.
    • Desapontado, com a possibilidade de ter que abortar esta travessia, planejada durante três anos e sem nenhuma vontade de retornar, em caso de fracasso.

Só nos restava orar e esperar o amanhecer.

No meio da noite, veio a boa notícia.

O Dinho acordou para ir ao banheiro e ficou comemorando, pois o céu estava limpo e estrelado, anunciando um lindo dia.

Aquilo me animou e nem saí da barraca para ver, pois naquele momento, tive a certeza de que iríamos concluir a travessia da Serra Fina.

Dormi que nem uma pedra!

Fim do Terceiro Dia

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